Coface vê risco agravado de falências em Portugal

No barómetro do primeiro trimestre, relatório publicado em abril, a seguradora de crédito Coface estimava incremento de 5% nas insolvências empresariais, colocando Portugal entre os cinco países com taxa anual mais baixa nesta área de potenciais sinistros de crédito.

Quando procurava estimar riscos num cenário de incerteza abrupta – em que a duração do confinamento era ainda uma interrogação e os efeitos da evolução da crise sanitária ainda dependia de fatores epidemiológicos; das respostas dos governos europeus e do impacto das medidas de confinamento na economia real – a companhia francesa já antecipava tendência de agravamento do choque e, consequentemente, dos riscos setoriais nas principais economias da Europa ocidental (Espanha +22%); Itália (+18%); França (+15%); Alemanha (+11%), com impacto potencialmente mais violento nas economias emergentes. Três meses depois, o prognóstico agrava-se.

No barómetro do 2º trimestre, com base num contexto em que as economias europeias já levantam restrições do confinamento, a companhia francesa antecipa uma queda de 4,4% no PIB mundial em 2020 (e recuperação de 5,1% em 2021) e a zona euro a afundar 9,7% este ano para depois crescer 7,7% em 2021. Os economistas da Coface refizeram as projeções de risco de insolvências para uma série de nações e setores (num universo de 162 países, 40% alteram as classificações, o mesmo acontecendo num universo total de 13 setores analisados em 28 países).

Neste barómetro de junho, a Coface coloca Portugal com 37% de variação acumulada no número de falências empresariais em 2020 e 2021 face aos níveis de 2019, ao nível da Itália e Reino Unido. Pior do que Portugal surgem os EUA (43%); Brasil (44%); Turquia (50%); Austrália (53%); Polónia (66%) e Hong Kong (76%). No mesmo gráfico, o índice de variação acumulada para o mundo é de 33%, enquanto Alemanha aponta 12%, França 21% e Espanha 22%.

Num mapa que distribui a avaliação em função de oito níveis de risco, o incumprimento empresarial em Portugal surge pintado a um verde seco, correspondente a risco “baixo” ou “satisfatório” e a merecer (na listagem por países) uma classificação “A3”, marcado a cinzento-escuro. De acordo com o relatório, o grafismo utilizado significa um agravamento do risco. Uma análise de risco por país que a seguradora francesa data de fevereiro, a cotação atribuída ao risco, ou clima de negócios em Portugal, era “A2”.

Insolvências aumentam um terço em termos globais

Quando aborda a situação global, o relatório recorda os apoios públicos que os países canalizaram para conter a pandemia e o seu impacto na economia, mas antecipa que as insolvências empresariais deverão aumentar um terço até 2021, face a 2019.

Reiterando parte da informação divulgada no relatório de 4 de abril, o Baròmetre Risque Pays et Sectoriels – T2 2020 afirma agora que a retoma económica será diferenciada, mas a tendência de aumento de insolvências toca a generalidade das economias mais maduras (EUA, Reino Unido, Japão, França e Alemanha). Muitas economias emergentes (por exemplo, Brasil e Turquia) “serão também afetadas pelas consequências económicas das medidas de contenção e pela queda das receitas do turismo, das remessas dos trabalhadores expatriados e das ligadas à exploração de matérias-primas cujos preços baixaram”.

Setores afetados: Transportes, Automóvel, Metalurgia, Distribuição e Vestuário e Têxtil

O forte aumento de insolvências reflete um aumento do risco de crédito das empresas no curto prazo (6 a 12 meses), refere o barómetro que baseia a análise em 13 setores a nível mundial. Cerca de 40% desses setores de atividade avaliados em 28 países (que representam 88% do PIB mundial) são objeto de desclassificação, indica a Coface.

“No atual contexto de crise da mobilidade, os transportes são os mais afetados por estas mudanças. Seguem-se os setores automóvel e da distribuição, já numa posição fraca no ano passado”, realça o barómetro. No outro extremo da escala, o setor farmacêutico e, em menor grau, a indústria agroalimentar e as TIC “são os mais resilientes”, nota o relatório.

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